EDITORIAL
Permito-me, sem qualquer
constrangimento politico, dar voz ao que na opinião comum tem deixado o País em
quase estado de histerismo colectivo.
Naturalmente que cada um
opina de acordo com as suas tendências e colorações políticas o que considero
legítimo.
Mas não posso deixar de me
questionar: então não é um dos chavões mais utilizados como arma de
legitimidade participativa que o que conta são os votos ? E que “por um voto se
ganha por um voto se perde” ? E que quem “mais ordena” é o povo através da
expressão do seu voto…?
Verifico só agora, admira-me
que os constitucionalistas ao longo de quarenta anos não tenham “detectado”
tal, que perdendo nas urnas se pode ganhar na “secretaria”, quer dizer no
parlamento … Afinal a expressão do voto do povo, ficámos a saber, desde que no
referido parlamento os “outros” dêem as mãos, nada vale. Feitas as contas os
vencidos passam a vencedores e com toda a legitimidade que a dita constituição
lhes confere…
Não quero nem para tal estou
disponível tecer críticas directas a um acto totalmente contrário aos
princípios democráticos que ao longo deste “longo dia democrático” aprendi.
Cai por terra a teoria de “ganhar
por um voto basta”.
Será que vamos ter muitos
casos a proliferar tendo como exemplo este “mau exemplo” ? Com outras “habilidades
“ mas com a mesma finalidade…ganhar na secretaria…
Eu tinha razão quando
escrevi que os partidos deveriam ser responsabilizados “criminalmente” pelo não
cumprimento do que prometem sem qualquer pudor durante as campanhas eleitorais. Como é possível que se assista
neste momento ao “casamento” de politicas escritas e “vendidas” de
caracterização tão contraditória ? Como
podem os principais defensores, assim se auto-intitulam, da democracia ficarem
de cócoras perante um aceno de poder deitando às urtigas princípios que ontem
defendiam como dogmas inquebrantáveis e fórmulas mágicas para a defesa dos
interesses colectivos ? Ou será só estratégia para, aproveitando para
satisfazer temporariamente a sua clientela politica, darem cabo do juízo aos
outros coniventes desta encenação trágico-cómica ?
Assisto como muitos dos
portugueses que no 25 de Abril de 1974 já por cá andavam a um arremedo dos
golpes que se sucederam posteriormente e que só viriam a terminar com uma
intervenção decisiva das nossas forças militares para evitar o pior. Os tempos
são outros. Quarenta anos seria tempo suficiente para que uma democracia amadurecida
não necessite de intervenções “estranhas” num sistema político que se pretende claro
e participativo mas sem “golpes baixos” e de difícil compreensão para a maioria
dos portugueses.
Nota: Começo agora a
perceber porque não é possível atingir os dois terços necessários à alteração
da nossa constituição…
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