09 novembro 2015

JORNAL DA MEALHADA



EDITORIAL

Permito-me, sem qualquer constrangimento politico, dar voz ao que na opinião comum tem deixado o País em quase estado de histerismo colectivo.
Naturalmente que cada um opina de acordo com as suas tendências e colorações políticas o que considero legítimo.
Mas não posso deixar de me questionar: então não é um dos chavões mais utilizados como arma de legitimidade participativa que o que conta são os votos ? E que “por um voto se ganha por um voto se perde” ? E que quem “mais ordena” é o povo através da expressão do seu voto…?
Verifico só agora, admira-me que os constitucionalistas ao longo de quarenta anos não tenham “detectado” tal, que perdendo nas urnas se pode ganhar na “secretaria”, quer dizer no parlamento … Afinal a expressão do voto do povo, ficámos a saber, desde que no referido parlamento os “outros” dêem as mãos, nada vale. Feitas as contas os vencidos passam a vencedores e com toda a legitimidade que a dita constituição lhes confere…
Não quero nem para tal estou disponível tecer críticas directas a um acto totalmente contrário aos princípios democráticos que ao longo deste “longo dia democrático” aprendi.
Cai por terra a teoria de “ganhar por um voto basta”.
Será que vamos ter muitos casos a proliferar tendo como exemplo este “mau exemplo” ? Com outras “habilidades “ mas com a mesma finalidade…ganhar na secretaria…
Eu tinha razão quando escrevi que os partidos deveriam ser responsabilizados “criminalmente” pelo não cumprimento do que prometem sem qualquer pudor  durante as campanhas  eleitorais. Como é possível que se assista neste momento ao “casamento” de politicas escritas e “vendidas” de caracterização tão contraditória ?  Como podem os principais defensores, assim se auto-intitulam, da democracia ficarem de cócoras perante um aceno de poder deitando às urtigas princípios que ontem defendiam como dogmas inquebrantáveis e fórmulas mágicas para a defesa dos interesses colectivos ? Ou será só estratégia para, aproveitando para satisfazer temporariamente a sua clientela politica, darem cabo do juízo aos outros coniventes desta encenação trágico-cómica ?
Assisto como muitos dos portugueses que no 25 de Abril de 1974 já por cá andavam a um arremedo dos golpes que se sucederam posteriormente e que só viriam a terminar com uma intervenção decisiva das nossas forças militares para evitar o pior. Os tempos são outros. Quarenta anos seria tempo suficiente para que uma democracia amadurecida não necessite de intervenções “estranhas” num sistema político que se pretende claro e participativo mas sem “golpes baixos” e de difícil compreensão para a maioria dos portugueses.
Nota: Começo agora a perceber porque não é possível atingir os dois terços necessários à alteração da nossa constituição…

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